Para celebrar este Dia Internacional da Mulher, conversámos com duas colaboradoras da unidade FCCN, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que trabalham numa das áreas onde ainda existe caminho para chegar à igual representatividade entre homens e mulheres.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, em Portugal no ano de 2020, apenas 38% das pessoas licenciadas nas áreas STEM – Science, Technology, Engineering and Mathematics – eram mulheres. Mais ainda, segundo um estudo da Mckinsey, em 2023 apenas 22% das mulheres europeias ocupavam cargos ligados à tecnologia.
Face a este caminho ainda por percorrer para erradicar desigualdades, as gestoras de ciência na unidade FCCN Filipa Pardelha e Susana Caetano partilharam o seu testemunho sobre o que é ser mulher nas áreas STEM.
Os motivos para a baixa representatividade feminina
Para Filipa Pardelha, a principal razão para esta diferença de representatividade entre homens e mulheres que ainda persiste nas STEM passa pela “herança histórica da associação das profissões STEM aos homens e a dificuldade que existe na mudança de mentalidades, assim como o tempo necessário para as alcançar”.
Revelando um otimismo face a este tema, Filipa refere acreditar que “o foco político na igualdade de género, assim como campanhas onde a visibilidade das mulheres nas STEM é partilhada com a sociedade serão muito importantes para a mudança deste paradigma”.
Questionada sobre o mesmo tópico, Susana Caetano destaca que a motivação para esta desigualdade “começa na educação dos 0 aos 5 anos, passa pela falta de exemplos no dia-a-dia, pela falta de incentivos durante o percurso escolar, e finalmente por um grande comodismo”. ”Continua a ser mais fácil e natural para as mulheres assumirem o papel de cuidadoras ao invés de arriscarem profissões novas”, reforça.
Pegando neste tópico, Susana lembra três mulheres que a inspiraram a vir para a área das STEM: “Marie Curie, Ada Lovelace e Carolina Beatriz Ângelo, porque tiveram coragem para sair da zona de conforto e dar o seu melhor”.
Questionada sobre as suas referências, Filipa Pardelha assume que escolheu esta área pela contínua aprendizagem que lhe trazia e por curiosidade. No entanto, não deixou de referir exemplos de mulheres que fazem parte da história das STEM e que a inspiraram, destacando, também, Marie Curie, “pela sua dedicação à investigação nas áreas da física e da química, assim como o impacto que criou para as gerações futuras poderem continuar a dedicar-se a estas temáticas”.
Destaca, ainda, “Rosalind Franklin e o seu não reconhecimento na altura da atribuição do prémio Nobel aos seus colegas James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins pela dupla hélice do ADN”.
Para si, este exemplo revela a diferença feita entre homens e mulheres nas STEM. “Foi onde percebi a importância da resiliência necessária para alcançar reconhecimento e consequente capacidade de continuar a investigação e a busca de conhecimento por parte das mulheres nesta área”, conclui.
Por fim, Filipa Pardelha completa a lista com uma inspiração mais direta, uma das suas professoras de licenciatura, Leonor Cancela. “Marcou-me pela vontade de fazer mais, saber mais, interligar conhecimentos de diferentes áreas com o objetivo de alcançar explicações e soluções para as questões existentes, assim como o gosto em fazê-lo”.
Ser mulher nas STEM é…
Como conclusão dos seus testemunhos, as duas colaboradoras da FCCN completaram a frase “Ser mulher nas STEM é…”. Se para Susana Caetano “é desafiante!”, para Filipa Pardelha é “ter a capacidade de se reinventar perante cada desafio encontrado. É também uma busca contínua de conhecimento com o propósito de inovar e solucionar questões, impactando positivamente o futuro”
Filipa não deixou de apelar à ação de todas: “é responsabilidade de cada uma de nós desmistificar os pressupostos existentes junto da sociedade, principalmente juntos dos mais pequenos, sejam meninas como meninos, de modo a crescerem sem a existência destas ideologias e assim alavancar a mudança na sociedade”.