A língua portuguesa está em constante transformação. Enquanto navegamos pelos caminhos sinuosos da era digital, testemunhamos essa transformação de uma forma mais imediata, rápida e premente.
No ano em que se celebram os 500 anos do nascimento de Luís de Camões, e se comemora, também, a própria língua portuguesa, é importante refletirmos sobre como se tem vindo a afirmar, bem como sobre as estruturas que têm desenvolvido esforços para a preservar. Desde o tempo das “armas e os barões assinalados” que “passaram ainda além da Taprobana” aos atuais “mares nunca antes (ou muito pouco) navegados” da World Wide Web, para onde caminha a língua de Camões?
Estudos recentes indicam que a presença da língua portuguesa está a decrescer na internet. Margarita Correia, professora, investigadora e coordenadora do Portal de Língua Portuguesa, refere que o projeto Presença da Língua Portuguesa na Internet (PPI), executado em 2021 pelo Observatório da Diversidade Linguística e Cultural na Internet, aponta para a descida de posição do português na lista das línguas mais usadas na web.
Recorrendo a uma outra metodologia de estudo do mesmo Observatório, Daniel Pimienta e a sua equipa de investigadores “considera provável a existência de uma ‘lei económica’ relacionada com a Internet, que liga a oferta (o conteúdo da Web disponível numa língua) à procura (o número de falantes desta língua ligados à rede)”. De acordo com o investigador, “estudos anteriores demonstraram que quanto mais falantes de uma determinada língua estão ligados à Internet, mais páginas Web existem nessa língua”.
Seguindo esta linha de pensamento, Margarita Correia refere que a percentagem de falantes de língua portuguesa conectados à Internet é globalmente de 67%, sendo Brasil e Portugal os que mais contribuem para esta realidade, com 74% e 75% de pessoas conectadas, respetivamente. Já os demais países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) apresentam valores mais baixos: Cabo Verde (62%), Moçambique (21%), São Tomé e Príncipe (33%), Timor-Leste (30%), Angola (16%) e Guiné-Bissau (5%).
Ainda de acordo com a investigadora, “em conjunto, portanto, a língua portuguesa está em 33.º lugar na lista de línguas com maior percentagem de internautas. Portugal apresenta, contudo, índices de conexão inferiores à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e uma baixa taxa de crescimento”.
Como já evidenciado, a internet desempenha um papel crucial na disseminação da língua de Camões. A produção de conteúdo online, o surgimento de novas formas de comunicação, de transmissão de conhecimento e formação de competências e, ainda, a influência das redes sociais, contribuem de uma forma determinante para o crescimento do número de falantes de língua portuguesa.
Neste sentido, o papel de todas as instituições e profissionais que promovem o ensino e a disseminação da língua portuguesa pelo mundo é crucial. É o caso do Instituto Camões, em Portugal, bem como de instituições análogas existentes noutros países do globo. As redes de arquivos e bibliotecas espalhadas pelo mundo lusófono constituem outro bom exemplo nesta matéria. Para além da coleção física de obras em língua portuguesa que conservam e disponibilizam e das diversas atividades culturais que promovem, os serviços prestados através dos seus websites contribuem de forma inegável para a disseminação da língua (bem como da cultura) portuguesa junto das comunidades que servem.
Também a Plataforma NAU, um projeto de e-learning pioneiro em Portugal, desenvolvido pela FCCN, Serviços Digitais da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, contribui para o mesmo fim. Criada com o propósito de democratizar o conhecimento e possibilitar o acesso ao ensino e à formação de competências a comunidades alargadas de utilizadores, em particular à população portuguesa e lusófona, já se tornou uma referência neste meio.
Com o intuito de abrir novos mundos, criando constantes e inovadoras rotas de conhecimento da lusofonia, este projeto, recentemente apoiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), passou a integrar a edx.org. Sendo esta a segunda maior plataforma de MOOC mundial, que conta com mais de 50 milhões de utilizadores, a NAU chegará a mais dois milhões de pessoas oriundas de países da CPLP para disponibilizar 60 cursos em língua portuguesa com a marca PortugalX.
No entanto, os pontos anteriores devem ser vistos como parte de um esforço de todos e mais abrangente, de forma a caminharmos para unir e aumentar a comunidade de falantes de língua portuguesa na internet, contribuindo, desta forma, para o aumento da presença do português no espaço cibernético.
Consulte o artigo no jornal Público.