O gestor do RCAAP – Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal, Paulo Lopes, conta-nos tudo sobre os principais passos dados por este serviço da FCCN que, em 2022, registou mais de 25 milhões de downloads. O papel do RCAAP no alcance dos objetivos de Ciência Aberta é outro dos pontos em destaque.
O RCAAP está aberto à participação de todas as instituições do sistema científico e de ensino superior português. O que ganha uma instituição ao formalizar esta adesão?
O RCAAP – Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal é a iniciativa nacional de acesso aberto e visa armazenar, preservar, promover o acesso ao conhecimento científico produzido em Portugal. As instituições que integram a rede RCAAP beneficiam dos três grandes objetivos deste serviço.
Desde logo, aumentam a visibilidade, acessibilidade e difusão dos resultados da atividade académica e de investigação científica portuguesa. A criação e disponibilização de um meta-repositório da produção científica e académica nacional, permitindo a pesquisa, o acesso e a utilização da mesma de forma facilitada e intuitiva, constituiu-se como uma importante mais-valia, quer a nível nacional, quer ao nível de cada uma das instituições participantes.
Por outro lado, é possível facilitar o acesso à informação sobre a produção científica nacional através da interligação e interoperabilidade do meta-repositório com outros componentes do sistema de informação de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Os repositórios de produção científica nacional estão interligados e interoperam com outros componentes desses sistemas, em especial com o sistema de gestão de currículos – o Ciência Vitae.
Por fim, o RCAAP permite integrar Portugal num conjunto de iniciativas internacionais que visam facilitar a interoperabilidade e a interligação com o crescente número de centros de investigação, organismos financiadores de investigação e instituições de ensino superior com repositórios deste tipo que têm proliferado na Europa e no mundo.
Existem alguns números ou estatísticas que possa partilhar como forma de ilustrar a atividade deste serviço?
As atividades do RCAAP são constantemente monitorizadas e existem diversos indicadores que atestam a atividade do serviço. Partilho os mais relevantes e que têm a ver com indicadores de utilização. Atualmente o RCAAP agrega mais de 878.000 documentos provenientes de 27 repositórios alojados no serviço SARI, 35 revistas científicas alojadas no serviço SARC, 95 comunidades alojadas no Repositório Comum, 26 repositórios com gestão própria e 178 revistas científicas também com gestão própria. Agrega ainda mais de 1.970.000 documentos provenientes do agregador brasileiro, o OASIS.BR. Estes documentos agregados geraram em 2022, mais de 25 milhões de downloads.
O RCAAP tem assumido um papel importante na promoção da adoção do movimento de acesso aberto ao conhecimento científico em Portugal. Quais são algumas das principais conquistas recentes, neste particular?
Atualmente, a grande maioria dos repositórios institucionais possuem as suas próprias políticas de acesso aberto e adotaram normativos e práticas que promovem o acesso aberto e a interoperabilidade entre sistemas. Muitas instituições estão a ligar os seus repositórios a sistemas de gestão de ciência de forma a permitirem a gestão integrada de toda a sua produção científica. A comunidade é bastante participativa e contribui frequentemente para a adoção e disseminação de práticas de ciência aberta. Também no campo editorial das revistas se tem vindo a notar mudanças que têm conduzido à adoção de práticas de ciência aberta como, por exemplo, a revisão por pares aberta, a publicação contínua, a introdução de identificadores persistentes para publicações (DOI) e para autores (ORCID), o licenciamento CC-BY 4.0 ou a possibilidade de permitirem a publicação de preprints.
O movimento de acesso aberto procura alcançar mudanças significativas. Pensa que o sistema científico e educativo em Portugal está hoje mais próximo dos objetivos deste movimento?
O caminho é longo, exige mudanças, adoção de novas práticas, políticas de regulamentações para a prática do acesso aberto, negociações duras com os principais editores de conteúdos. Mas, sim, o sistema educativo em Portugal está hoje mais próximo daquilo que são os objetivos dos movimentos da Ciência Aberta e do Acesso Aberto e o RCAAP desempenha um papel importante para o alcance destes objetivos.
Quais os próximos passos pensados para o RCAAP?
Os esforços para o próximo triénio estarão concentrados essencialmente em migrar o serviço SARI para a nova versão do software de repositórios, o DSPace 7. Trata-se de uma versão radicalmente diferente da anterior que irá lançar grandes desafios, do ponto de vista da migração dos recursos, da gestão de repositórios e da sua utilização.
Será também um período em que o RCAAP vai apoiar desenvolvimentos da nova versão de back-end do Portal RCAAP, nomeadamente no que diz respeito a uma interface de gestão e controlo dos processos de agregação e indexação da informação proveniente dos repositórios. Isto de forma que os gestores destes recursos possam, eles mesmo, controlar e corrigir estes processos. Por fim, será ainda desenvolvida uma nova interface de frontend para o Portal RCAAP.